Marcha dos Trabalhadores supera expectativas e reúne 15 mil em São Paulo

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Mais de 15 mil pessoas ocuparam na sexta-feira, 18, a Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, para protestar contra as medidas de ajuste fiscal do Governo Dilma Rousseff (PT), e também contra o oportunismo da “oposição de direita”, capitaneada pelo ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB). A Marcha Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadores, convocada pela central sindical e popular CSP-Conlutas, fez frente às manifestações do dia 16 de agosto (pela derrubada do Governo Dilma) e do dia 20 do mesmo mês (em defesa do atual governo). “Se esse governo tem que cair, vai ser pelas mãos dos trabalhadores”, resumiu o rodoviário Reginaldo Castro, que veio do Ceará para participar da manifestação. A marcha começou na Avenida Paulista, no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), desceu a Avenida Consolação e terminou na Praça da República, em um trajeto de 3,5 quilômetros que durou cerca de três horas. O percurso ocorreu de forma absolutamente tranquila, e com a presença de um efetivo policial relativamente pequeno, formado por policiais militares e pela Tropa de Choque.

De acordo com a organização, representantes de 24 estados mais o Distrito Federal estiveram presentes. Do Ceará, por exemplo, vieram 50 pessoas, entre trabalhadores da construção civil e da indústria têxtil, rodoviários e servidores públicos. O Paraná levou uma delegação de cerca de 200 manifestantes. A caravana foi organizada pelo Sinditest-PR. No protesto, misturada a inúmeras bandeiras, balões e bonecos, podia ser vista uma faixa pedindo a saída do cargo do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).

Do Pará, vieram dois ônibus, que precisaram de dois dias de viagem para chegar à capital paulista. “Ninguém aqui recebeu dinheiro da Petrobras, por que então estamos pagando a conta da crise?”, perguntava-se Gilmar Piedade, trabalhador da construção civil de Belém, durante a manifestação na Paulista.

Não pagar a conta da crise, e do consequente ajuste fiscal do Executivo, era uma das principais bandeiras da manifestação, que também defendia a imediata interrupção do pagamento da dívida pública. Segundo as contas das 40 entidades que organizaram a marcha, ele consome hoje 45% do orçamento brasileiro.

Mas os manifestantes também tinham outros alvos institucionais: além de Dilma e Aécio, o Congresso Nacional. Isso ficou claro nas palavras de ordem repetidas diversas vezes durante o trajeto: “Chega de Dilma/ Chega de Aécio / Chega de Cunha e desse Congresso”, em referência ao atual presidenta da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). “Nós não concordamos com alguns setores da esquerda brasileira que dizem que é preciso defender o Governo Dilma. É verdade que o PSDB quer atacar os direitos dos trabalhadores. Mas o que o PT está fazendo? A verdade é que a direita está dentro do governo do PT, com [os ministros]Kátia Abreu [PMDB, Agricultura] e Joaquim Levy [Fazenda]”, discursou o ex-candidato à Presidência pelo PSTU, José Maria de Almeida, conhecido como Zé Maria.

Além do PSTU, outros dois partidos marcaram presença no protesto do dia 18, embora com um efetivo menor de militantes: o Psol e o PCB, Partido Comunista Brasileiro.

Durante a marcha, houve ainda a convocação para que entidades sindicais e populares ainda alinhadas com Governo Dilma (como CUT e MST) rompam com o Executivo e colaborem com a construção de uma greve geral no país. “Aqui é o primeiro passo para a construção da greve geral”, analisou Reginaldo Castro, do Ceará.

Vânia França, de 69 anos, do Sindicato dos Trabalhadores da Previdência do Estado de São Paulo (Sinsprev), foi secretária da União Nacional dos Estudantes (UNE) à época da ditadura militar, e critica a atual postura da entidade, em defesa do governo. “O povo brasileiro está começando a acordar. Nós lutamos por uma universidade pública e de qualidade. Eles nos deram uma universidade paga e de má-qualidade. A UNE precisa ver isso e não ficar do lado do governo. A Anel [Assembleia Nacional dos Estudantes Livres] é hoje a ferramenta de luta que a UNE não é”, considerou a experiente militante, que participou da marcha com o auxílio de uma bengala.

Mas, com 69 anos, ela não tem receio de participar de uma manifestação desse tamanho e de um eventual confronto com a polícia? “Não tenho medo. Nós estamos lutando por uma coisa justa. Onde está o dinheiro do petrolão? Paguem com ele a dívida”, disse.

Ao reunir 15 mil pessoas, a marcha superou as expectativas dos organizadores, que inicialmente pretendiam colocar 10 mil na Avenida Paulista. “Cerca de 15 mil pessoas em um movimento apenas da esquerda trabalhadora é um número bastante representativo”, avaliou o diretor do Sinditest-PR José Carlos Assis. “Esse ato aumentou bastante as possibilidades da greve geral. Não podemos nos iludir, precisamos mobilizar mais, mas hoje nós crescemos bastante.”

Para José Carlos, as palavras de ordem da marcha devem ter chegado aos ouvidos do governo. “Acho que agora eles estão um pouco mais preocupados com os movimentos da esquerda trabalhadora.”107

Parte da delegação do Paraná. O Sinditest-PR levou 200 pessoas para a marcha.

Unificar a esquerda
Um dia após a marcha pela Paulista, o Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras se propôs a pensar os próximos passos na organização do chamado “terceiro campo”, a unificação de partidos e movimentos sociais em uma frente de esquerda de oposição ao atual governo. A reunião contou com cerca de 1,2 mil pessoas na sede do Sindicato dos Metroviários do Estado de São Paulo, no bairro do Tatuapé, capital.

Em todas as falas, era possível vislumbrar a satisfação pelo que foi considerado o inegável sucesso da manifestação do dia anterior. “Foi uma demonstração de ousadia política. A imprensa teve que se render e mostrar a nossa manifestação”, comemorou Sebastião Pereira, o Cacau, secretário-executivo da CSP-Conlutas, em referência à cobertura de emissoras de TV como a Rede Globo e de jornais como Folha e Estado de S. Paulo. “Agora, tudo isso tem que caminhar no sentido de uma greve geral no país. Não Podemos achar que temos mais força do que realmente temos, mas estamos avançando.”

O plenário deliberou pela mobilização de um “Outubro de Luta”, sob as mesmas bandeiras da Marcha Nacional. A orientação é que entidades e movimentos busquem a unificação das greves e paradas de produção, inclusive com iniciativas como o bloqueio de rodovias e a ocupação de terras e prédios públicos.

Algumas entidades já trabalham nesse sentido. Gibran Jordão, coordenador-geral da Fasubra, a federação que reúne os sindicatos dos trabalhadores técnico-administrativos, anunciou que no próximo dia 28 o Fórum dos Servidores Públicos Federais se reunirá para discutir a construção de uma greve geral no país. “É a única forma de demover o governo do ajuste fiscal”, apontou.

Sandoval Matheus,
Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR.

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