Governo Richa se recusa a negociar e cresce a possibilidade de greve geral no Paraná

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O Governo Richa se recusou na tarde desta terça-feira (19), em reunião com o Fórum de Entidades Sindicais (FES), a apresentar uma nova proposta de reajuste salarial para os servidores públicos do Estado. Com isso, os professores da rede pública já decidiram manter a greve, iniciada no dia 25 de abril. Outros sindicatos, como o dos servidores da saúde e dos agentes penitenciários, têm assembleias marcadas para hoje à noite. No decorrer da semana, outras categorias devem decidir pela adesão à greve. Ganha força a ideia de uma paralisação geral dos serviços públicos do Estado por tempo indeterminado.

A oferta do governo ainda é a mesma da semana passada: 5% de reajuste em duas parcelas, sem data certa para serem incorporadas ao salário. O valor não cobre a inflação dos últimos 12 meses, de 8,17%.

Representantes do Fórum de Entidades classificaram a reunião de hoje como “uma agressão a mais” por parte do governo. Segundo relatos, o chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD), iniciou o encontro negando-se a transformá-lo em uma mesa de negociação. Sciarra também teria dito que só volta a falar com o funcionalismo quando ele retornar aos postos de trabalho.

A decisão do governo já era esperada pelos servidores do Estado, que durante a manhã fizeram uma grande manifestação pelas ruas do centro de Curitiba. Segundo o FES, 30 mil servidores de todo o Paraná participaram do protesto, número confirmado pela Guarda Municipal de Curitiba. “Sinceramente, acho que a resposta hoje vai ser ruim”, previa Jean Carlos Ribas, servidor da saúde de Ponta Grossa. “Mas nós vamos fazer pressão até dobrar os caras.”

Para Wagner Haisi, do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), o Governo Richa está sem saída. “O governo não tem como não cumprir [a correção de acordo com a inflação]. Se o Richa quiser se manter no cenário político do Paraná, tem que nos atender.” Haisi é perito do Instituto de Identificação do Paraná. De acordo com ele, dos 300 papiloscopistas (peritos em identificação por impressões digitais) do Paraná, pelo menos 100 estiveram presentes na manifestação.

A duração da greve já supera as expectativas do professor de matemática Carlos Cardoso Arantes. “Quando começou, eu achei que ia durar uma semana. Agora não sei mais. Aconteceu tanta coisa. Tudo está muito incerto.”

Para o professor da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) Roberto Pitella a suspensão da greve não é uma alternativa. “Nós, servidores públicos, temos uma grande responsabilidade: mostrar à população que ela também corre risco.”

Pela manhã, o funcionalismo estadual se concentrou em três praças do centro da cidade: Rui Barbosa, Tiradentes e Santos Andrade. Em caminhada, as manifestações se uniram e seguiram pela Avenida Cândido de Abreu (foto), principal via de acesso ao Palácio Iguaçu.

Uma parte dos manifestantes ficou em frente à sede da Secretaria de Estado da Fazenda, na Avenida Vicente Machado. O secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, participou da reunião com os servidores e é tido como o principal mentor do “ajuste fiscal” do Governo Richa.

Para o FES, a atitude de Costa de negar um reajuste que cubra a inflação do período é fruto de uma interpretação equivocada dos números do governo. Segundo o Fórum, os acréscimos de impostos feitos no final de 2014 e início de 2015 são suficientes para garantir um caixa que possibilite aumento superior a 5% para o funcionalismo.

O que acontece no Paraná é um exemplo para os trabalhadores de todo o país, segundo o dirigente do Sinditest Márcio Palmares. “É uma greve para combater o sucateamento dos serviços públicos e os programas de austeridade, que não são fruto apenas do Governo Richa, mas também do Governo Dilma”, diz.

Sem Choque

A manifestação de hoje ocorreu 20 dias após a violenta repressão pela polícia dos servidores que, em 29 abril, tentaram barrar as mudanças na Previdência do funcionalismo estadual, e que acabou com um saldo de mais de 200 feridos. O cenário, no entanto, era bem diferente. Sem a Tropa de Choque no Centro Cívico, a manifestação ocorreu de forma tranquila. Os únicos policiais nos arredores ocupavam-se apenas de controlar o tráfego. Banheiros químicos também foram instalados em frente ao Palácio Iguaçu, coisa que havia sido barrada pelo governo nas manifestações de 20 dias atrás.

O tempo todo os servidores lembraram o enfrentamento do dia 29. Nas grades da Assembleia, o Sindicato dos Servidores da Saúde do Paraná (Sindsaúde) pendurou cartazes com as fotos dos 31 deputados que votaram a favor do projeto que alterou a Previdência. Charges e caricaturas do governador Beto Richa em poses bélicas podiam ser vistas em muros e coladas no asfalto. No carro de som, todos os sindicalistas referiram-se à Praça Nossa Senhora de Salete, que fica em frente ao Palácio Iguaçu e à Assembleia Legislativa, por uma nova nomenclatura: Praça 29 de Abril.

Sandoval Matheus

Assessoria de Comunicação do Sinditest

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