De quem é a culpa do arrocho salarial?

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Quatro meses em greve e um reajuste abaixo da inflação… De quem é a culpa pelo arrocho salarial?

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José Carlos de Assis, o Zé Carlos, do HC, membro da Direção do Sinditest e da FASUBRA, eleito duas vezes para o CNG neste ano fala sobre o balanço da greve e as perspectivas para o próximo período.

Redação — Sempre que uma greve termina é comum que muita gente critique o movimento e atribua eventuais insucessos da luta aos próprios trabalhadores. Como você avalia a questão? De quem é a culpa pelo arrocho contra os servidores?

Zé Carlos — Em primeiro lugar, do governo federal. Se Dilma quisesse, poderia ter atendido a nossa pauta já no primeiro dia de greve. Além disso, a maior parte das pessoas que criticam são aquelas que não estavam na luta, que ficaram esperando sentadas para ver se alguma coisa cairia do céu. A culpa do arrocho contra os trabalhadores é principalmente do governo, mas também dos sindicatos e centrais atrelados ao governo, cooptados pelo governo, pelas reitorias, por quem está no poder. Como sempre, eles atrapalharam mais do que ajudaram.

Era possível ter conquistado mais? Mesmo neste cenário de recessão e crise econômica?

Com certeza. Dinheiro tem. O governo está mandando rios de dinheiro para os bancos. Poderíamos ter conquistado mais, se a CUT e a CTB, que são as centrais que hoje têm mais sindicatos nas bases, tivessem convocado os trabalhadores para uma Greve Geral no Brasil. Aí teríamos conseguido muito mais.

Qual foi o papel das forças governistas, PT/CUT e PCdoB/CTB no Comando Nacional de Greve?

Nos bastidores eles traziam os militantes de base que são ligados a eles para inviabilizar as propostas do comando, principalmente as propostas que se chocavam diretamente com a política do governo. O principal exemplo foi a contraproposta unificada de negociação de 19,8%, em uma única parcela, que teria melhorado nossa situação na mesa de negociação, mas eles não aceitaram, trabalharam contra e conseguiram que a proposta não fosse pra frente. Outro exemplo emblemático foi o boicote que fizeram contra o Fórum Nacional dos SPFs.

Em sua opinião os trabalhadores fizeram tudo o que podiam?

Quem estava na luta no dia a dia fez tudo o que pôde. Fizemos várias caravanas, ocupações, enfrentamentos, várias atividades nos estados… Tudo o que estava dentro da possibilidade dos trabalhadores e dos sindicatos de luta foi feito.

Qual era a linha da CSP-Conlutas no CNG/Fasubra e no Fórum Nacional dos Servidores Públicos Federais?

A nossa linha sempre foi a unidade da classe trabalhadora e nesse caso de todo o serviço público federal para enfrentar o governo. Se conseguíssemos unificar nossas ações com o INSS, com o pessoal do ANDES-SN, do SINASEFE, se tivéssemos conseguido unificar os servidores federais em torno da data-base e das pautas comuns, teríamos colocado o governo contra a parede. Mas os governistas não estavam preocupados com isso, e sim com o mandato da Dilma. Infelizmente, com o peso que eles ainda têm na FASUBRA e no CNG, conseguiram impedir a unificação, favorecendo o governo.

Com o fim da greve, quais serão os próximos passos do movimento? De que modo a luta deve continuar?

Já estamos organizando uma grande luta pelas 30 horas, principal demanda da nossa pauta local. Nacionalmente continuamos construindo o Espaço Unidade de Ação, através da CSP-Conlutas, que aglomera várias entidades, sindicatos, movimentos que querem realmente lutar contra o ajuste fiscal do governo Dilma, contra o PT/PMDB, contra o PSDB, contra essa política suja que está aí. Também já estamos organizando os trabalhadores pensando numa grande greve unificada do serviço público federal em 2017, não descartando a possibilidade de greve em 2016, porque, se precisar, teremos que parar.

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