Assédio moral: Entre o suicídio e a angústia

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Você conhece a significado do termo “kafkiano” ou “pesadelo de Kafka”? São expressões que têm um significa pesado, remetem a angústia e ao absurdo; algo que beira a irracionalidade

Um caminho escuro e silencioso, que leva ao incerto. Mas, na verdade, ele tem nome e é uma prática infelizmente comum nos ambientes de trabalho: o assédio moral.

Para a diretora do Sinditest-PR Rosmara Pereira, o terrorismo psicológico deve ser encarado como algo extremamente grave.

“É triste saber que há uma espécie de contaminação do nosso ambiente de trabalho com esse tipo de ocorrência. Algo que vai além de questões pedagógicas. O mais terrível é que na maioria das vezes essa violência se desenvolve silenciosamente”, explica Rosmara.

O assédio moral é identificado nas atitudes, comportamentos e ações repetidas, sempre com o objetivo de constranger e humilhar a vítima. É possível identificar o assédio em situações como:

:: o assediador procura fazer com que a vítima pareça incompetente;

:: através do isolamento e da recusa de comunicação com o vítima para constrangê-la;

:: quando o assediador atenta contra a dignidade usando frases ofensivas, zombarias, chacotas e “brincadeiras” que desqualificam a vítima;

:: quando há ameaças de violência física, empurrões, gritos injuriosos, assédio sexual e assédio que extrapola o ambiente organizacional, com telefonemas ou cartas anônimas.

E há números para demonstrar que isso de fato acontece:

“(…) Constatou-se que, aproximadamente 14,8% da população é vítima de assédio, sendo que 27,6% dos pesquisados identificaram-se como vítimas de assédio moral. Destes, 70,1% são vítimas de dois ou mais agressores, que em sua maioria são colegas de trabalho (45,5%) do sexo masculino (41,6%). Conclui-se, dentre outras questões, que cabe à instituição e seus gestores tomarem medidas de prevenção e combate ao assédio (…)” – trecho da tese “Assédio Moral em Universidade: a violência identificada por servidores docentes e técnico-administrativos”.

Esse assédio pode acontecer tanto dentro da categoria, entre colegas TAEs, como na relação com outras categorias, como docentes.

Para Rosmara, muitas vezes, a vítima sofre diariamente e essa repetição age contra sua dignidade. “Os servidores técnicos administrativos podem enxergar no sindicato um local para denunciar e também um ponto de acolhimento para quem precisa de apoio”, garante.

Grave realidade nas universidades

No Paraná, a recente a exoneração, em 26 de setembro, do professor Irã Taborda Dudeque, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) “por prática de assédio” ganhou os jornais. O caso foi tratado como assédio sexual e denunciado pelas alunas. Os abusos aconteciam desde outubro de 2017.

O inverso também ocorre, e às vezes de forma extrema, como no caso do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou após ser investigado por supostos desvios de recurso da educação, em uma ação midiática e marcada por irregularidades e excessos da Polícia Federal.

Sobre essa tragédia, uma médica do trabalho do Hospital Universitário de Santa Catarina concluiu que a morte de Cancellier foi “fruto de assédio, humilhação e constrangimento moral relacionados ao trabalho”. Detalhe: nada foi provado contra ele.

Foi desse assunto que se chegou ao termo “assédio moral insuportável”. É o pesadelo de Kafka fazendo, da pior forma, mais uma vítima.

 

Fonte: Sinditest-PR

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