Tae relata discriminações institucionais no Dia Nacional da Visibilidade Lésbica

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O apagamento de mulheres é uma constante dentro de uma sociedade historicamente patriarcal e machista. Este processo é ainda mais acentuado para identidades e vivências de mulheres que divergem da heteronormatividade. Em contraposição a isto, ativistas brasileiras estabeleceram no dia 29 de agosto o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, na tentativa de lutar contra esse apagamento.

A data firmada dez dias após a comemoração do Dia do Orgulho Lésbico (19), denuncia a invisibilização e uma série de violências impostas a mulheres lésbicas. Além das convivências sociais que cobram uma explicação diária quanto a sua condição de ser, a perda de vínculos familiares, de amizades e de trabalho, mulheres lésbicas convivem com a objetificação e fetichização de suas identidades. Embora não haja produções oficiais de dados e estatísticas no Brasil, estudos e análises científicas apontam ocorrências de estupros corretivos e lesbocídios. 

A perda de laços e a discriminação institucional é o caso da tae Edna Carvalho da Silva, lotada na UFPR. Ela relata já ter sentido “olhares tortos” de colegas de trabalho: “às vezes as pessoas não querem se aproximar muito de você por não serem taxadas também de estarem em algum tipo de relação afetiva. Então elas já meio que se protegem nesse sentido”. 

Em relação aos enfrentamentos, Edna pontua que já houve avanços no decorrer da história, mas ainda é preciso avançar em aspectos mais subjetivos e institucionais.

“Muitas vezes a gente não tem a credibilidade, quando a gente faz uma denúncia de um assédio institucional, por exemplo. E com relação a empregabilidade, como está essa questão de você assumir sua sexualidade na hora da entrevista, como que você é enxergada pela gestão? Será que estão incluindo essas pessoas nas empresas ou tem uma limitação? Acho que a gente precisa avançar principalmente nesse aspecto”. 

A delegada da base do Sinditest Izabel Gogone, lotada na UTFPR, campus Dois Vizinhos, ressalta que o fato de não vivenciar experiências violentas em seu ambiente de trabalho de forma alguma anula as violências que outras mulheres lésbicas sofrem no dia a dia, em especial as mulheres negras. “É importante não individualizar a questão a partir de experiências pontuais, mas ter um olhar coletivo. Embora eu tenha tido muita ‘sorte’ em meu local de trabalho, não tem como descolar essa ‘sorte’ do fato de eu ser uma mulher branca, de classe média, com alta ‘passabilidade’”.

Izabel explica que a “passabilidade” se deve a expressão de gênero conservadora que manifesta, ou seja, muitas pessoas não imaginam que ela seja lésbica porque sua expressão não difere muito do que a sociedade heteronormativa espera de uma mulher. Nesse sentido, Izabel ainda destaca a importância de assumir a orientação sexual como um ato político, desde que haja segurança para isto. Além do mais, sugere utilizar as eventuais posições de privilégio para expor as violências e injustiças que acontecem e reafirmar o direito de ser quem são. 

Para a coordenadora do Sinditest Flávia Maria Cordeiro, não há como deixar de considerar a importância deste dia de luta. “Quando temos a necessidade de um dia de luta pela visibilidade lésbica, significa que a vivência e existência destas mulheres são sistematicamente apagadas, seja pela falta de reconhecimento de sua sexualidade, seja desconsiderando que as mulheres lésbicas são diversas, assim como as mulheres de outras orientações sexuais”.

A coordenadora ainda observa que expressões de gênero e sexualidade são frequentemente confundidas, o que resulta no pensamento de que mulheres lésbicas “querem” ser homens. “Importante considerar que todo este preconceito, violência e invisibilidade é fruto de uma sociedade estruturada no machismo, na misoginia e na heteronormatividade, que define um padrão de expressão de gênero e orientação sexual e exclui pessoas que não se ‘encaixam’ nesse padrão”. Flávia também analisa que a consequência de ter consciência das diversas violências que mulheres lésbicas sofrem em função de existirem e buscarem viver a essência de ser quem são, e naturalizar todo esse preconceito, é desconsiderar que podemos evoluir enquanto sociedade.

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