Por dentro das transformações do serviço público: Trabalho remoto potencial e efetivo – contradições são apontadas em estudo do IPEA

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*Por Cacau Pereira

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou em fevereiro deste ano um abrangente estudo sobre o trabalho remoto no Brasil durante a pandemia.

O IPEA é uma fundação pública vinculada ao Ministério da Economia e fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais – possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros – e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus técnicos.

O trabalho apontou uma redução nas estimativas do potencial do trabalho remoto no país. As estimativas anteriores indicavam um percentual de 22,7%. O estudo reduziu essa estimativa para 16,7%, ou seja 6 pontos percentuais abaixo.

A metodologia baseou-se nos estudos de Dingel e Neiman (2020), pesquisadores que mapearam a potencialidade do trabalho remoto nos Estados Unidos e em outros 85 países, sendo  aplicada à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Foi analisado o período de maio a novembro de 2020, sendo avaliados os trabalhadores ocupados que possuíam condições de exercer o trabalho de forma remota.

As amostras foram realizadas mensalmente, sendo os questionários aplicados por telefone, em função da pandemia. Foram consultados 193,6 mil domicílios distribuídos em 3.364 municípios.

A pesquisa apontou que o percentual de pessoas ocupadas em trabalho remoto alcançou 13,3% em maio de 2020. Em novembro daquele ano esse índice cairia a 9,2%. Em números absolutos, a queda foi de 8,7 milhões de pessoas, em maio, para 7,3 milhões de pessoas em novembro.

O principal objetivo da pesquisa foi avaliar as condições para a realização do trabalho remoto, como, por exemplo, o acesso à internet, computador e energia elétrica e seu resultado foi divulgado no boletim n.º 2738 do IPEA que segue anexado, ao final deste artigo, para quem tiver interesse em se aprofundar na temática.

Os pesquisadores responsáveis pelo interessante trabalho foram Geraldo Sandoval Góes, Felipe dos Santos Martins e José Antônio Sena Nascimento.

Sob o título “O trabalho remoto potencial e efetivo no Brasil: possíveis razões de um hiato elevado” a conclusão é devastadora: “cerca de um quinto dos trabalhadores em ocupações passíveis de serem realizadas de forma remota não possuíam meios necessários para estarem em home office: não tinham computador com acesso à internet ou mesmo energia elétrica constante em seus domicílios”.

Essa queda potencial de pessoas aptas ao trabalho remoto repercutiu em todas as unidades da federação, desde os estados mais ricos aos mais pobres do país.

Mas, chama ainda mais atenção a disparidade dos percentuais – de pessoas com potencial para o trabalho remoto – entre alguns estados. Os maiores percentuais foram alcançados por São Paulo (21,1%) e Distrito Federal (28,1%), enquanto os piores percentuais se localizaram nos estados do Pará (8,1%) e do Maranhão (8,2%).

Ao analisar as condições para o exercício do trabalho remoto, a pesquisa apontou que 0,02% das pessoas não contavam com o acesso à energia elétrica em seus domicílios. Outros 0,65% não contavam com energia elétrica de forma contínua. No quesito de acesso ao computador, a pesquisa apontou que 21,82% desses trabalhadores não possuíam o equipamento em casa. Já 23,88% não contavam com acesso à internet.

A identificação desses dados levou, então, ao remapeamento das condições potenciais para o trabalho remoto entre os trabalhadores ocupados, com a redução de aproximadamente 5 milhões de pessoas, praticamente um quarto do total.

A pesquisa confirmou aquilo que os sindicatos vinham dizendo desde o início da pandemia. O isolamento social tornou-se necessário por razões óbvias e o trabalho em domicílio foi uma alternativa posta e mesmo reivindicada pelas entidades de classe, como forma de proteger os seus representados. No entanto, as condições para o exercício do trabalho remoto mostraram-se precárias, chegando a penalizar os próprios trabalhadores que, muitas vezes, arcaram com os custos necessários para garantir a continuidade de suas atividades fora do ambiente de trabalho.

*Cacau Pereira é pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS) e colabora com o Departamento de Formação do Sinditest-PR.

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Autor

Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR

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