Ministra da Agricultura diz que latifúndio não existe mais no país e defende reforma agrária pontual

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Nesta segunda-feira (5), a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, cedeu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e disparou declarações que, em suma, atacam os que lutam por terra em nosso país.

Entre as diversas declarações que demarcam a dureza e a intransigência da ministra de como serão conduzidos os embates – nada favoráveis aos trabalhadores sem terra e indígenas – quando questionada sobre se o país necessita acelerar a reforma agrária, Kátia declarou que “em massa, não” e continuou destacando que “ela [reforma agrária]tem de ser pontual, para os vocacionados”, ou seja, para as pessoas cujas terras são determinadas para esse fim pelo governo.

O direito à terra passou longe das declarações da ministra, que teve o disparate de dizer que não existe mais latifúndio no país (grandes propriedades de terras nas mãos de apenas um proprietário).

Segundo alertou Leonardo Sakamoto em artigo publicado em seu blog, “não há como negar que a concentração de terra nas mãos de poucos é gritante por aqui. Considerando o grupo de estabelecimentos rurais com 2500 hectares ou mais, um total de 15.012 unidades reunia 98.480.672 hectares de terra, de acordo com o último Censo Agropecuário brasileiro, divulgado em 2009. Ou seja, 0,29% das unidades do país concentrava 29,8% da área para a produção agropecuária”.

Na entrevista, a ministra chamou de “invasores” aos que, por falta de opção, ocupam como forma de pressionar o governo para que promova a reforma agrária. Disse ainda que não vai “tomar terra das pessoas para dar para outras”, sobrepondo o direito à propriedade à função social da terra para fins de reforma agrária.

E quando questionada sobre os territórios dos índios também terem sido tomados, a ministra foi enfática. “Então vamos tomar o Rio de Janeiro, a Bahia. Por que [o raciocínio]só vale em Mato Grosso do Sul? O Brasil inteiro era deles. Quer dizer que nós não iríamos existir”. É a típica resposta de quem pensa com a cabeça do colonizador.

Kátia também defendeu a PEC 215,
 medida que, se aprovada, além de vetar à ampliação de terra indígena já demarcada, determina que a delimitação definitiva das terras indígenas seja feita somente por meio da aprovação de projeto de lei. Com isso, a demarcação teria que passar pela aprovação da Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, composto em peso pela chamada “bancada ruralista”, que defende os interesses dos grandes proprietários de terra.

Há seis anos à frente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu é empresária pecuarista. Foi nomeada pela presidente Dilma Rousseff como ministra da pasta.

O membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Mauro Puerro, 
destaca que tais declarações  de Kátia só confirmam o que os movimentos sociais já alertavam desde a suspeita de sua indicação. “Sua gestão estará a serviço dos patrões e do agronegócio”.

Segundo Mauro, “a tragicomédia disso é que grande parte dos movimentos sociais, a começar pelo MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra], fizeram campanha desenfreada para eleger Dilma Rousseff, com o argumento da necessidade de impedir que a direita  chegasse ao poder”,  um contrassenso, visto que  mês e meio depois da eleição, a presidente nomeia Kátia Abreu, “a maior representante da direita ruralista”, para o Ministério da Agricultura.

O dirigente destaca ser urgente a unidade dos movimentos sociais para lutar pela reforma agrária, ampla e massiva, tão necessária para o país, assim como é preciso unidade para defender os trabalhadores e as trabalhadoras da cidade e do campo contra os ataques que estão sendo feitos pelos diferentes governos estaduais e pelo governo federal.  Para isso, segundo Mauro, “além dos governadores do PSDB e adjacências, teremos que lutar contra Kátia Abreu e outros diletos representantes da direita que a acompanham no ministério, mas também contra quem os nomeou – a presidente Dilma, do PT”, concluiu.

Confira a íntegra da entrevista aqui 

Charge: Carlos Latuff (retirada do site CIMI – Conselho Indigenista Missionário)

Fonte: CSP-Conlutas

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