Após colapso emocional, trabalhadora pede demissão

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Tereza Cristina (nome fictício) acreditava que um(a) bom (a) trabalhador(a) é aquele(a) que nunca falta o trabalho, nunca pega atestado, não vai às assembleias do sindicato. Passou vinte e nove anos trabalhando num hospital universitário de referência internacional, o Hospital de Clínicas da UFPR. Teka, como é chamada pelos colegas de trabalho, trabalha por uma fundação nesse Hospital, a Funpar. Doou a vida toda ao trabalho. Seguiu à risca a cartilha do “bom trabalhador”.

Aprendeu que tinha que ser forte, suportar as adversidades da vida. Precisava ser “resiliente”. E assim viveu e trabalhou com afinco. Acontece que a pouco menos de dois anos as coisas começaram a mudar para Teka. A fundação para a qual ela trabalha recebeu um ultimato para ser extinta. A solução encontrada para resolver a questão de pessoal para substituir os trabalhadores da fundação, no hospital em que ela trabalha, seria a entrada de uma empresa que se diz pública de capital privado.

É difícil acreditar que um princípio da física aplicado à madeiras e metais seja comparado ao ser humano. Ser resiliente é ser capaz de suportar as alterações de pressão e de temperatura e se manter inalterável. Desse modo, pede-se que as pessoas se tornem “fortes” para suportar pressões no trabalho e, aqueles que não suportarem às pressões, serão considerados fracos e incompetentes. Só os fortes resistem.

Colapso Emocional

Teka suportou todo tipo de dificuldade, porém, desde que a empresa realizou o processo seletivo e contratou seu trabalhadores, a vida de Teka começou a ser mais difícil. Os novos trabalhadores, que deveriam ser seus colegas de trabalho, foram orientados pelos patrões, já na recepção, que eles entraram no hospital para “mostrar como se trabalha”. Teka não suportou a pressão. Com vinte e nove anos de casa, teve um colapso emocional e pediu demissão.

Quem saiu ganhando quando Teka se isolou de todos e todas e se manteve afastada do coletivo que poderia protegê-la? Ao pedir a conta Teka simplesmente deixou para o patrão 40% dos seus direitos de rescisão de contrato. Uma vida de trabalho para deixar quase a metade de seus direitos para o patrão.

Decisão Precipitada

É justo isso? É humano? A história de Teka é apenas uma história triste? Será que essa história não está acontecendo com outros(as) trabalhadores(as) da fundação em que ela trabalha? Quando trabalhamos coletivamente somos mais fortes e conseguimos orientar nossos colegas sobre as possíveis dificuldades que teremos. Se Teka tivesse participado das assembleias, tivesse ouvido os colegas que participam, talvez tivesse sido amparada emocionalmente para não tomar decisões precipitadas.

A verdade é que faz parte da lógica capitalista exaurir ao máximo as forças do(a) trabalhador (a), deixá-lo(a) vulnerável e isolado(a). Só quem sai ganhando é o patrão. E não vai haver, por parte da gestão, quem a defenda. No máximo, vão dizer um “sinto muito”, agora você já pediu a conta. Reverter a decisão é, talvez, muito difícil. O assédio moral pelo qual Teka passou não é isolado. Muitos passam por isso. Porém, é complicado configurar esse tipo de atitude, como assédio. Isto porque, há todo um complexo sistema normativo para se comprovar.

Mais cedo ou mais tarde os(as) trabalhadores(as) da empresa que está ingressando agora no HC serão tratados(as) pela empresa, do mesmo modo que Teka. Vai chegar o dia (para alguns este dia já chegou) que vão se dar conta de que as orientações de não se misturarem e até mesmo de se isolarem só serve para deixá-los (as) mais vulneráveis e, portanto, adestrados ao modo como o patrão gosta, ou seja, “adocilizados”.

Não permitam que a história de Teka se repita. Não esperem que o pior aconteça. Abram os olhos.

Assessoria de Comunicacão Social do Sinditest, com colaboração de Jaqueline Balthazar Silva/HC e diretora de Saúde do trabalhador do Sindicato.

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