Abertura do Congresso da CSP-Conlutas tem polêmicas e debate quente

980

 

 

 

 

 

 

 

 

Questionada por Mauro Iasi, Luciana Genro defendeu a atuação da bancada do PSOL. Para ela, votos para a clásula de barreira foram “mal menor”.

A abertura da 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas expôs as divergências existentes entre três das siglas mais à esquerda do espectro político brasileiro. Em uma das primeiras atividades, um painel sobre a conjuntura política nacional, representantes de PSOL, PCB e PSTU se enfrentaram em alguns pontos polêmicos. O mais recente é aprovação em primeira votação pela Câmara, na semana passada, da cláusula de barreira que retira dos partidos sem representação no Congresso o acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão. A aprovação, que contou com os votos da bancada do PSOL, atinge em cheio PSTU e PCB.

Quem provocou o debate foi Mauro Iasi, do PCB, para quem “o PSOL pode ter dado um passo decisivo para impossibilitar a construção de uma frente de esquerda” no país. Mesmo assim, ele diz que a nova regra não deve diminuir o ânimo dos militantes de seu partido. “O PCB se prepara há muito tempo para não depender do fundo partidário. O PCB sobreviveu há duas ditaduras, não é um governozinho vagabundo que vai nos amedrontar.”

Luciana Genro, do PSOL, defendeu a atuação dos deputados do partido. Segundo ela, a decisão dos parlamentares foi tomada no calor do momento, quando não se tinha certeza sobre a correlação de forças dentro do Congresso. Ela também argumentou que a regra aprovada foi um mal menor em relação a outra proposta apresentada, que pretendia que o corte para o acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV fosse se cinco deputados e não de um, como acabou ficando decidido. “Faz diferença para o PCB e o PSTU se a cláusula de barreira é de um ou de cinco deputados. Foi um mal menor”, argumentou. “O que eles pretendiam e o que o Renan Calheiros ainda vai tentar fazer no Senado é aprovar uma cláusula de barreira ainda mais draconiana.”

Zé Maria, do PSTU, voltou ao assunto. “Luciana, eu tinha a expectativa de que o seu posicionamento sobre esse tema fosse melhor”, começou. “Não posso acreditar em mal menor. Existe a abstenção. O PSOL poderia ter se abstido de votar. Essa medida equivale a jogar o nosso partido na clandestinidade. Como, num país desse tamanho e com 200 milhões de habitantes, um partido vai levar suas propostas aos trabalhadores sem acesso à TV?”, questionou.

Os três, no entanto, deram sinais de que podem superar o episódio na busca pela unidade da esquerda.

Experiência europeia versus rompimento da ordem vigente
Outro ponto polêmico diz respeito às leituras díspares que os três fazem do atual momento político do Brasil, e dos rumos para os quais ele aponta. Luciana Genro acredita que o país tem a aprender com o que aconteceu na Europa nos últimos anos, quando a crise econômica e o consequente ajuste fiscal abriram espaço para o surgimento e o desenvolvimento de partidos de esquerda “radicais”, segundo ela mesma. Exemplos disso seriam o Syriza, na Grécia, e o Podemos, na Espanha. “São processos que ainda estão em aberto, mas a classe trabalhadora aprende no processo”, disse. “Eu fui perguntada vária vezes durante a eleição: mas qual é o seu modelo? Bem, nós não temos um modelo. Nós queremos construir o nosso modelo. Mas o que aconteceu na Europa pode se refletir aqui.”


“A direita não tem o direito de tirar a Dilma do poder, mas a classe trabalhadora tem sim”, defendeu Zé Maria.

Para Zé Maria, o que aconteceu na Europa não serve de modelo para o Brasil. “Não acho que o Podemos e o Syriza sejam uma alternativa. O Podemos nem mesmo socialista se reivindica”, esclareceu.

Ele vê, no atual momento do país, um crescimento e uma radicalização das lutas históricas dos trabalhadores. Junto disso, um rompimento da classe com o que ele definiu como sua “direção histórica”, ou seja, o PT. “O PT, lá em 1980, escolheu disputar a consciência dos trabalhadores por meio de eleições. Olhe no que deu. É essa a nossa estratégia?”, perguntou. “A direita não tem o direito de tirar a Dilma do poder, mas a classe trabalhadora tem sim. Nós não temos por que esperar até 2018.”

Diagnóstico semelhante tem Mauro Iasi. “Nós temos que romper com o modelo de representação do estado burguês e estabelecer canais de democracia direta”, estabeleceu.

Os três estão de acordo em um ponto: para eles, o PT há tempos não tem mais o direito de ser tido como um partido de esquerda. “O que nós temos são dois blocos da burguesia. Um encabeçado pelo PT, o outro pelo PSDB”, ilustrou Zé Maria.

O Congresso
O 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas começou nesta quinta-feira, 04 de junho, em Sumaré, cidade do interior paulista a cerca de 30 quilômetros de Campinas. Cerca de dois mil delegados de todo país devem deliberar até domingo. A delegação do Paraná conta com 58 pessoas, 35 delegados e 23 observadores. Destes, 12 delegados e 12 observadores são do Sinditest.

A abertura do Congresso ainda contou com a presença de delegações vindas de diferentes partes do mundo, como Palestina, Itália, Haiti, Chile, Argentina e Colômbia.


Sandoval Matheus
Assessoria de Comunicação do Sinditest

Compartilhar.

Autor

Comments are closed.

X