Por dentro das transformações do serviço público: Estrangeirismos e trabalho remoto – presente e futuro antecipado na pandemia

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Uma profusão de expressões em inglês tem marcado os debates sobre as novas tendências de organização do trabalho potencializadas pela pandemia. Expressões como home-office, workcation, coworking, officeless, anywhere office, dentre outras, são parte desse novo vocabulário que identifica as várias formas do trabalho remoto. Em artigos anteriores já explicamos as diferenças fundamentais sobre o home-office e o teletrabalho, expressões da modalidade profissional “à distância”.

Essas, no entanto, não são as únicas formas de trabalho remoto existentes. Vamos, neste artigo, apresentar resumidamente as principais expressões que caracterizam essas novas modalidades de trabalho, nos desculpando, antecipadamente, pelo estrangeirismo presente nos termos.

 Coworking

É uma modalidade de trabalho exercida em ambientes compartilhados, podendo ser ocupados por empresas, profissionais liberais, trabalhadores autônomos etc. São compartilhados, além do espaço e da estrutura física do local, as fontes de energia, internet, mediante pagamento pelo tempo utilizado.

Esses espaços têm ganhado adesão pela possibilidade de redução de custos, ocupação para eventos determinados, como uma reunião ou seminário, mas também muitas empresas têm utilizado essa modalidade como algo permanente.

Inclusive no setor público temos o exemplo do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que vem deslocando parte da mão de obra dos servidores das repartições para os espaços de coworking. É uma modalidade que permite a descentralização da prestação dos serviços, gerando economia para as empresas com custos de deslocamento, por exemplo.

Anywhere office

O “escritório em qualquer lugar” permite tanto o trabalho na residência quanto em outro espaço, pelo trabalhador. É uma modalidade que se adequa ao teletrabalho, pois, em geral, é mediada pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Comporta o coworking ou outro espaço com acesso à internet. É uma modalidade que vem ganhando espaço entre grandes empresas, que buscam a captação de empregados inclusive em outros países. Muitas transnacionais já trabalham com esse modelo, notadamente nos setores de alta tecnologia da informática.

 Officeless

Literalmente “sem escritório”, designa o trabalho caracterizado pelo empregador que não conta ou não disponibiliza estrutura física para a prestação do serviço, ficando a maior parte dos empregados prestando serviços remotamente.

Workcation

Incluo aqui, apenas para registrar aos nossos leitores, o provocativo termo que foi cunhado juntando as palavras “work” (trabalho), e “vacation” (férias) e vem sendo proposto por empresas de turismo como uma nova possibilidade de trabalho exercido em ambientes agradáveis ou locais famosos de visitação pública.

Realmente, o humor e a criatividade embutidos nas estratégias dos defensores do modo capitalista de produção são, de fato, insuperáveis… Dificilmente um trabalhador comum poderá usufruir desta comodidade. No entanto, não podemos descartar que muitos executivos venham a incluir em seus pacotes de contratação o modelo de workcation.

Mas, voltando ao assunto, que é muito sério e pode trazer implicações na reorganização do mundo do trabalho no século XXI, o que temos observado como tendência, e o que mais têm crescido no pós-pandemia, é o chamado trabalho híbrido, mesclando trabalho remoto e presencial, seja no espaço físico da empresa ou em espaços compartilhados, como os coworking.

É a aplicação, mais uma vez, do conceito de flexibilidade que caracterizou as transformações do mundo do trabalho a partir dos anos 1980/90.

Muitas empresas, tanto do setor público quanto privado, têm adotado o modelo porque o mesmo não quebra de maneira tão radical a interação entre trabalhadores e empresa e entre os próprios trabalhadores.

Os modelos remotos “puros” trouxeram muitas doenças do trabalho e a exacerbação de conflitos no ambiente doméstico. Essa percepção, atestada em pesquisas realizadas, fez com que as formas híbridas ganhassem a adesão dos empregadores e da administração pública. Essa é a principal tendência identificada nesse período pós pandemia.

Como enfrentar essas novas tendências, seus impactos e desafios, é parte da elaboração que as entidades sindicais deverão fazer, na defesa dos direitos e da saúde dos seus representados.

Cacau Pereira é pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS) e colabora com o Departamento de Formação do Sinditest-PR.

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Autor

Assessoria de Comunicação do Sinditest-PR

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