Na greve, governo admite melhorar proposta inicial; passeata em Brasília reúne cinco mil

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faixamec638Não houve avanços substanciais na reunião de negociação entre o Ministério do Planejamento e o Fórum dos Servidores Públicos Federais que aconteceu na tarde de terça-feira, 07 de julho, em Brasília.

Mas, embora ainda não tenha apresentado uma alternativa concreta, o governo já admite melhorar o índice de reajuste salarial e diminuir o parcelamento da oferta inicial. A primeira proposta falava em 21,3% de reajuste parcelado em quatro vezes. O governo também já insinua que pode aumentar os benefícios concedidos aos servidores e discutir as pautas específicas de cada categoria.

O parcelamento do reajuste é uma das grandes críticas dos servidores à primeira oferta governamental, já que ele “engessa” as reivindicações até 2019 e abre brechas claras para a judicialização das próximas greves.

Na mesa de terça, o Executivo também se comprometeu a enviar em breve, para o Congresso, um projeto de lei que estabelece regras para a política salarial dos servidores públicos federais, incluindo a data-base.

Uma próxima reunião, que será marcada até o dia 21 julho, deve encontrar uma proposta mais específica na mesa.

Segundo Gibran Jordão, coordenador-geral da Fasubra, embora a proposta não tenha apresentado novidades, ela mostra uma postura diferente na negociação por parte do governo. “Há uma fragilidade política do governo, uma baixíssima popularidade por conta dos erros cometidos pelo próprio governo”, avalia. “Um segundo elemento é que existe uma greve que cresce no funcionalismo, não só na Fasubra, mas em outras categorias do serviço público.”

A Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps) deflagrou greve em 07 de julho. O Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) aprovou indicativo de greve para o próximo dia 13 de julho, e a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), para o próximo dia 22. Para Carla Cobalchini, diretora do Sinditest-PR, “isso significa que estamos na antessala de uma greve unificada dos servidores federais”.

Manobra
No início da tarde de terça-feira, o governo tentou manobrar o encontro, incorporando à mesa de negociação entidades que não fazem parte do Fórum de Servidores Federais e que não vinham acompanhando de perto o processo. Segundo os servidores, a tentativa era de “diluir” a mesa e confundir a pauta, para tentar fazer passar uma proposta mais próxima do que pretendia o Executivo.

A direção no Fórum, no entanto, negou-se a negociar nessa configuração. A reunião com o Ministério do Planejamento, incialmente marcada para as 14 horas, começou só às 17. A professora da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, Soraia de Carvalho, definiu a situação assim: “O que está acontecendo hoje aqui é um sinal de que o governo não quer negociar, não nos leva a sério”, disse. “É uma prova de que precisamos radicalizar o movimento.”

Entretanto, durante a reunião, o Executivo recuou e admitiu, por exemplo, que cometeu um erro ao submeter, na primeira rodada de negociação, a negociação de benefícios e gratificações à aceitação do reajuste salarial.

“A caravana foi um grande divisor para que o governo flexibilizasse uma postura antes intransigente”, resumiu Léia Oliveira, da Fasubra.
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Passeata pela Esplanada
Antes da reunião com o Ministério do Planejamento, servidores federais realizaram uma passeata pela Esplanada dos Ministérios. Cerca de cinco mil pessoas participaram do ato – 1,6 mil apenas da base da Fasubra – que reuniu pessoas de todo o país, entre técnicos administrativos, professores e alunos.

Estados distantes da capital federal, como Amapá, Amazonas, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Maranhã e Sergipe estavam representados. Em todo o país, já são mais de 60 universidades federais em greve.

A movimentação começou no fim da manhã, com uma primeira parada em frente ao prédio do Ministério da Educação. A passeata ocupou uma extensão de mais ou menos um quilômetro em duas pistas das largas avenidas do Plano Piloto. Com carro de som, tambores, cornetas e palavras de ordem, a Caravana da Educação fez muito barulho em frente à sede, mas não conseguiu com que uma comitiva fosse recebida pelo ministro.
À tarde, a caravana seguiu para a sede do Ministério do Planejamento, a fim de acompanhar a reunião do Fórum dos Servidores Públicos Federais.

Do Paraná, foram 80 servidores, de cidades como Curitiba, Apucarana, Campo Mourão, Realeza, Toledo, Medianeira, Pato Branco, Foz do Iguaçu e do Litoral. Nesses municípios, estão localizados campi de quatro universidades: UFPR, UTFPR, Unila e Fronteira Sul.

Para chegar à Brasília, eles enfrentaram 24 horas de viagem de ônibus, um padrão no acampamento montado pela Fasubra na Esplanada dos Ministérios. É o mesmo tempo, por exemplo, da viagem da caravana que veio da Bahia. Mas quem saiu de Porto Alegre demorou mais: 36 horas.

Os 96 servidores de Santa Catarina enfrentaram 30 horas de viagem. Entre eles, uma técnica administrativa aposentada da UFSC, de 77 anos de idade. Por conta de uma prótese no quadril, ela precisa viajar o tempo todo com uma perna imobilizada. “Quando a gente vem para a luta, precisa vir da maneira que nos oferecem. A luta nos impõe sacrifícios, que tem a ver também com as condições do sindicato”, explica Enaura Graciosa. “Se vier de avião, daí não é da luta. Daí é um pouco burguesia, não é?”, questiona ela.

Na entrada do Ministério do Planejamento, dona Enaura avaliou o atraso da reunião do Fórum de Servidores e as manobras do governo. “Querem vencer a gente pelo cansaço”, definiu. “Mas eu sou sindicalista.”

É a voz da experiência.dilmaiwantyou638

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