Adoecimento mental na UNILA: a produção institucional de um ambiente tóxico

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Quando pensamos em assédio moral, logo nos vem à mente a imagem de uma pessoa em posição hierárquica superior, que produz um ambiente de trabalho nocivo, perseguindo e adoecendo outros ao seu redor. Infelizmente na UNILA, as relações tóxicas que incidem negativamente na saúde física e mental dos servidores e das servidoras, incluindo as técnicas e os técnicas administrativos em educação, além dos discentes, têm tomado proporções institucionais para além das chefias. Como exemplo, relataremos um fato ocorrido ano passado, acompanhado pela diretoria do Sinditest-PR.

Em 23 de março de 2022, o Sindicato participou de uma reunião com a atual Reitoria para denunciar um caso de adoecimento mental da equipe do IMEA. Na ocasião, dos sete TAEs envolvidos, apenas três aceitaram falar – os demais, abalados com tudo o que haviam sofrido, ou por medo de retaliação, preferiram não participar da discussão. Os servidores buscavam representar o ocorrido à autoridade superior, esperando algum tipo de amparo, proteção e solução para o problema que estavam enfrentando.

No entanto, a situação toda foi muita pesada e difícil para os trabalhadores denunciantes. Eles esperavam empatia e confiaram na imparcialidade e na impessoalidade da gestão, que deveria encaminhar a questão às vias administrativas competentes. Contudo, seus relatos foram classificados como falas subjetivas, impressões pessoais que não constituíam materialidade alguma.

Ademais, o Reitor declarou que até aquele momento não havia sido informado formalmente sobre a situação do IMEA, sendo que os primeiros relatos à PROGEPE datam desde 2019. Ao término da reunião, o atual vice-reitor afirmou que os TAEs estavam proferindo acusações gravíssimas contra um “servidor público federal” e que seriam responsabilizados judicialmente por suas ações. Como representantes sindicais, informamos à reitoria da UNILA que estávamos respaldados pela lei 8.112 (artigos 116, inciso VI e 126-A), e que buscávamos uma solução política e administrativa para o caso por meio do diálogo.

A realidade foi bem diferente. A atual Reitoria, sem o conhecimento e consentimento dos participantes, gravou e transcreveu a reunião, divulgou os arquivos, expos a situação e os trabalhadores envolvidos. Essa ação negligente e desrespeitosa gerou dois processos nas esferas civil e penal contra os técnicos do IMEA, perpetuando um ciclo de adoecimento e perseguição, além de causar um desperdício de tempo e recursos públicos. Quando questionamos a administração a respeito das ações movidas contra os servidores, recebemos um ofício em que o reitor admitia ter vazado a “memória” da reunião, sem intenção de prejudicar os TAEs.

Nos meses seguintes, a Reitoria da UNILA nada fez. Não deu retorno nem aos técnicos nem aos dirigentes sindicais sobre as providências que deveria ter tomado para solucionar o problema; não encaminhou o relato dos servidores à ouvidoria/corregedoria da Universidade. Pelo contrário: usou os veículos institucionais para publicar duas matérias enaltecendo o instituto (“Conquistas do Instituto Mercosul de Estudos Avançados” e “Novo IMEA: mulheres que fizeram a diferença”) , varrendo o problema para debaixo do tapete.

Soma-se a esse contexto outro fato: tivemos conhecimento de uma sindicância (processo n°23422.0096952018-77), aberta em 2018 pelo ILATIT, com uma situação muito similar à que aconteceu no IMEA. No entanto, mesmo com recomendação da corregedoria para abertura de PAD, o processo foi arquivado pela atual reitoria em 2020, desqualificando os relatos dos docentes, discente e servidores TAEs envolvidos, alegando falta de materialidade. Ou seja, a atual gestão também não fez nada para encaminhar o problema e solucionar a questão no ILATIT, e mesmo estando ciente do caso, permitiu que a mesma situação acontecesse, novamente, no IMEA. Um outro processo também foi aberto pelos servidores do IMEA, mas segue, lentamente, aguardando por um encaminhamento da autoridade instauradora, e provavelmente resultará em mais um arquivamento.

O resultado de todo esse descaso, de não tomar as providências necessárias para averiguar possíveis irregularidades relatadas pelos servidores, é a produção de uma cultura do medo, da impunidade e o adoecimento de todos os outros que estão ao redor de pessoas desqualificadas para ocupar cargos de gestão. Os casos relatados resultaram em servidores e discentes amedrontados, adoecidos, e que inclusive foram embora da UNILA, ampliando o grave problema de evasão institucional que a universidade atravessa hoje. No IMEA, o resultado foi a destruição da equipe de trabalho e do instituto, que hoje tenta se reconstruir e recomeçar.

Depois de um encaminhamento desses, quem mais teria coragem de relatar qualquer irregularidade à atual gestão? 

Estas situações nos mostram como o problema é uma violência institucional, um funcionamento que se manifesta na estrutura, pela omissão, e nas práticas de uma gestão autoritária e antidemocrática. Na qual os servidores, mesmo quando amparados por lei, têm seu sofrimento minimizado, seus relatos questionados, ignorados, expostos e seguem sendo perseguidos dentro e fora da instituição, ainda mais fragilizados.

Precisamos admitir que nós, enquanto instituição, estamos adoecidos. Esse é o primeiro passo para começarmos a pensar em um caminho para uma mudança de cultura dentro da UNILA. Uma gestão democrática, dialógica e comprometida com o combate ao assédio e a garantia de relações saudáveis de trabalho, se faz por seus atos, e não apenas no discurso.

*Delegados e delegadas de base da Unila

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